quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

ESTOU INDO PRA SALVADOR



Amigo César,

Tudo pronto aí na capital baiana?! Pois então, amanhã chego aí. Tenho que te contar como consegui. Lembra do Raimundo? O chefe aqui da empresa? Ele desde algum tempo jogava os seus famosos “765” (as cantadas diárias) na minha amiga e colega de trabalho, Marta. Te contei sobre algumas cenas que presenciei. Ele era indiscreto. Vi que estava complicado se livrar do plantão da edição do fim de semana e comecei a fazer o grande plano. De domingo para segunda-feira fiz Marta dormir lá em casa. Pensei na lavagem cerebral que tinha que fazer para ela cair na tentação de ficar com Raimundo, ou pelo menos seduzi-lo até conseguirmos a folga. Claro que Marta não quis, refugou, esnobou. Mas, entretanto, todavia, eu lhe joguei uma lábia tão perfeita que ela caiu na rede como um peixinho. Ela deu conta que eu estava certa, ou me dizia estar. Na segunda-feira produziu o “modelito” fatal de Marta. Nada chamativo ou vulgar apenas diferente. Marta é bonita, só precisa de uma mega arrumação. Ela tem cabelos lisos (que só andam presos), um corpo estruturado e um sorriso estridente. Não sei ao certo, amigo César, o que fez o “todo poderoso” se atrair por ela. Mas, gosto é igual a &*@&%, cada um tem o seu. Marta demonstrou resistência por causa da esposa de Raimundo, Dona Cristina, que trabalha no departamento comercial do jornal. Dizia-se grata por Dona Cristina a tratar bem e respeitar os funcionários sem hierarquia. Vê se pode amigo, a gente trabalha como loucas nesse jornal! Damos nossas manhãs, tardes e noites, sem feriado! Expressei-me apreensiva com Marta garantindo que ela só faria o que quisesse, mas pra pensar direito por que essa era a sua chance, na verdade era a minha chance de ir. Poxa amigo, nunca fui para o carnaval de Salvador! Tenho minha oportunidade, lutei o ano todo e ainda fiz a cabeça de Marta pra ir comigo e na hora “H”não seríamos liberadas?! Isso nunca! Perco o emprego, mas não deixo de ir! Logo repensei e percebi que não posso perder esse emprego, comprei os abadas dividido no Visa, em 12x. Tive que pensar em uma alternativa, uma “jogada de mestre”. Na tarde de terça-feira mandei Marta levar uns artigos na sala de Raimundo pra ele analisar e avaliar para a publicação. Ela não quis ir me perguntando por que eu mesma não ia lá e entregava. Puxei-a até a sala de reunião e expliquei, mais uma vez, toda a situação. Marta não tinha muita grana, quando falei que ela ia perder todo o dinheiro dos abadas que compramos no cartão logo ela arregalou os olhos e pegou os papéis de minha mão. Indiquei os passos da famosa sedução de filmes. Tudo cronometrado! Marta entrou na sala de Raimundo. Acompanhei esperançosa até a porta se fechar. Encostei-me a minha mesa roendo as unhas, rezando para todos os santos que o plano desse certo. Não tinha como dar errado, mas tudo dependeria do desempenho de Marta. Trinta e sete minutos depois Marta sai da sala sem olhar para os lados. Arrumando os cabelos e seguindo ao banheiro. Entendi a descrição e a segui sem dar bandeira. Quando entrei no banheiro Marta lavava a boca. Só tive cabeça para perguntar o que tinha acontecido e se tinha dado certo, se estávamos liberada. Marta me olhou chorosa e aliviada. Pensei, consegui!!. Depois de alguns segundos ela fala calmamente:

- O avião sai amanhã as 12:45h.

Avião? Não entendi! Íamos de “bus” e compraríamos as passagens depois da resposta final. Mas foi tudo tão perfeito que Marta conseguiu, além dos sete dias de folga, duas passagens (ida e volta) para Salvador. Ajoelhei-me e agradeci aos orixás. Menos um gasto! Marta não me contou o que aconteceu naquela tarde de terça-feira na sala do “poderoso chefão”, também não me preocupei em aprofundar a curiosidade por conta de tanta felicidade. Amigo, consegui! A única coisa que Marta me falou foi:

- Quem tem boca, vai onde quer!

Não sei se foi meu plano ou o desempenho de Marta, mas o que importa mesmo é que amanhã estaremos aí, e de TAM!


(Acontece Gente é uma coluna fictícia)